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Primeiro Amor [Crônicas Masculinas #1)

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Crônicas Masculinas é uma série do Testosterona que acompanha a vida de Pedrinho à partir dos seus 15 anos de idade. A cada crônica descobrimos algum acontecimento na vida de Pedro Henrique, que está um ano mais velho que no texto anterior.

Este é o primeiro texto da série

Primeiro Amor

Quando se tem 15 anos e o mundo se apresenta como um infinito de possibilidades, tudo é assustador e caótico. Não fomos apenas eu e você que encaramos as incertezas da adolescência de forma desajeitada, com Pedrinho também foi assim.

Ansioso pelas mudanças em seu corpo, Pedro Henrique espalhava na cara o creme de barbear do seu pai e se imaginava fazendo a barba, fazia poses no espelho treinando olhares sedutores, e sabia exatamente quando um pêlo novo nascia no suvaco. Toda essa fase de transformação aflorou uma espécie de ansiedade que desde então caminha de mãos dadas com Pedrinho, mesmo que ele não saiba porque se sente deslocado e cheio de dúvidas.

Sentiu seus hormônios trabalharem tanto quanto um assalariado que precisa sustentar uma numerosa família, sua voz engrossou, as pernas espicharam, uma coleção de espinhas tomou conta do seu rosto, mas a principal mudança foi perceber os novos contornos no corpo das meninas, principalmente da sua vizinha Priscila.

Até pouco tempo atrás Pedrinho tinha olhos apenas pro seu álbum de figurinhas da Copa. Seu tempo livre era gasto jogando bola na rua ou assistindo Pokémon na televisão, mas isso não sou eu quem digo, foi o próprio rapaz que percebeu a mudança em seu comportamento. A primeira vez que olhou pra Priscila com outros olhos, estava empinando pipa na rua. Ela chegou com um sorriso no rosto, disse “Oi Pedrinho” e levantou a cabeça procurando pela pipa no horizonte.

Há algum tempo ele não a via, por isso seus olhos brilharam quando notou que o corpo da garota estava diferente, os seios faziam uma curva perfeita sob a blusinha branca, como se quisessem reivindicar seu espaço. Sentiu o coração bater mais forte e reparou que Priscila estava mais bonita também.

Era um sentimento gostoso, um frio na espinha misturado com uma vontade de correr sem destino. Percebeu também o cheiro doce do perfume da garota e teve vontade de abraçá-la e nunca mais soltar. Mais tarde tomou um banho demorado pensando em cada detalhe de Priscila: seus longos cabelos negros, o sorriso desafiador, enfim, todo o fascínio que o corpo feminino é capaz de despertar num jovem inexperiente, você sabe como é, já estivemos no lugar do Pedrinho.

Depois daquele dia o mundo de Pedrinho parecia mais colorido, notava cada vez mais a beleza das mulheres ao seu redor. Comprou algumas revistas de sacanagem na banca de jornal do Seu Alberto e explorou cada página escondido no banheiro. Por algumas semanas passou o maior tempo possível na rua, esperando uma oportunidade de rever Priscila, mas ela quase nunca aparecia e ele não tinha coragem de ir chamá-la pra tomar um mísero sorvete, era tímido demais pra isso. 

Foi na festa de aniversário de um dos meninos da rua que Pedrinho e Priscila deram o primeiro beijo, e tudo aconteceu por iniciativa dela, já que ele estava apavorado demais pra tomar qualquer atitude. Suas mãos estavam molhadas de suor e ele nem sabia mais de onde puxar assunto quanto ela simplesmente tascou um beijo nele.

Os dias seguintes foram estranhos, ele só pensava na garota, não sabia quando a veria novamente, nem como se comportaria. Sua única certeza é que estava completamente apaixonado. Não se pode culpar o jovem por não compreender o tamanho dos seus sentimentos quando eles ainda são novidade. Pedrinho entendia a sensação que sentia.  Ansiedade, excitação, aflição, paixão, medo, era tudo novo pra ele, e no fim das contas foi a sua insegurança que arruinou tudo.  Mas isso só soube anos depois quando a própria Priscila contou pra ele.

Três semanas depois do beijo, a viu novamente. Era sábado, estava jogando futebol na rua com os amigos quando ela passou. Apesar de acenar de longe pra garota, ela não viu ou fingiu não ver Pedrinho e seguiu seu caminho. 

Tristes foram os dias de Pedro Henrique depois daquele fatídico sábado. Sentia medo de ir atrás da garota e lhe dizer o que sentia e não ser correspondido, acabou ficando na sua e deixou seu medo triunfar sobre sua vontade de desbravar o desconhecido. Meses depois Priscila apareceu com um namorado, um cara que nunca tinha visto até então.

Era só a primeira vez que ele teria uma desilusão amorosa, mas não tinha como saber que isso é o que a gente chama de vida: uma sucessão de desilusões, com alguns momentos de felicidade no meio, pra gente não enlouquecer.

Gostou do Texto? Leia mais crônicas em Jornada Literária

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